Adotar um projeto estruturado de busca de eficiência energética em uma indústria ou grande varejo é uma iniciativa praticamente mandatória quando se planeja escalar níveis mais elevados de excelência operacional e assim, consequentemente, gerar redução de custos e vantagem competitiva.
Frente ao atual contexto global de mudanças climáticas, no entanto, uma decisão executiva desse tipo assume agora relevância e abrangência mais amplas e que, em termos práticos, vai além de uma solução que une aprimoramento da gestão de utilidades e adoção de mudanças comportamentais.
A medição sistemática, precisa e permanente das emissões de CO2, acompanhada de medidas efetivas de descarbonização, são atitudes que incorporam hoje o rol de obrigações das empresas modernas que prezam por suas responsabilidades do ponto de vista da governança ambiental, social e corporativa (ESG).
Ganhos e benefícios compensam esse esforço, seja sob a forma de certificações que dão acesso a segmentos comerciais diferenciados, seja pela obtenção dos credenciamentos necessários para a negociação de créditos de carbono no mercado local e internacional, resultando em receitas adicionais às obtidas no core business principal.
Disponibilidade de recursos financeiros no mercado
Os setores com maior potencial de eficientização no Brasil compreendem um universo diversificado, que vai de metalurgia e alimentos processados, passando por açúcar e etanol, até minerais não metálicos e produtos químicos. No geral, há um potencial de economia em torno de 9,8% a 11,1%, em média, segundo dados da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), estatal da área de planejamento ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME). Na área de cerâmica, contudo, surge uma estimativa de racionalização que supera pouco mais de 40%, considerando-se os consumos térmico e elétrico.
O cumprimento de metas envolvendo o uso racional de fontes de energia, levando à limitação ou substituição de combustíveis de origem fóssil, ganhou maior foco no governo atual. Há um aceno mais efetivo a organismos internacionais que monitoram o clima, quanto o desenvolvimento de ações de conservação ambiental e de controle de emissões, mesmo considerando que o país exibe uma matriz energética 85% renovável.
A revitalização dessa política já se traduz, na prática, a uma maior oferta de recursos financeiros oficiais voltados a programas de sustentabilidade destinados aos diversos setores da economia. Isso busca incentivar o empresariado a aderir a um esforço maior pela transição energética, na medida em que, com a possibilidade de captar aportes financeiros a taxas atrativas, não há risco de comprometer recursos originalmente aplicados ao desenvolvimento dos negócios.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, oferece vários produtos especialmente desenhados para atendimento de demandas diversas do setor produtivo, seja por aprovações diretas ou por meio de bancos repassadores, a depender dos montantes em questão. Uma das linhas que tendem a receber reforço robusto de capital é o chamado Fundo Clima, cujas condições são mais acessíveis quando comparadas às modalidades convencionais de empréstimo.
Independentemente das fontes oficiais, bancos privados também estão oferecendo crédito a empresas, com ênfase especial para financiamento de equipamentos de geração de energia renovável. Trata-se de uma política que vem ao encontro de demandas de segmentos industriais interessados em descarbonizar suas respectivas matrizes, substituindo combustíveis fósseis.
Serviços completos e financiamento ao alcance das indústrias e grandes varejos
Empresas especializadas em soluções completas, tanto locais como de capital internacional, já vem, contudo, atendendo, com resultados bastante positivos, às mais variadas demandas. Das empresas que se tornaram referência de mercado brasileiro no que diz respeito à eficiência energética, as mais experientes e completas em seus portfólios dominam todos os serviços de ponta a ponta e possuem pacotes que incluem, mediante prévia contratação, oferta de capital para troca de equipamentos por modelos mais modernos e eficientes. Além do financiamento, outro diferencial importante é o domínio de plataformas inteligentes de sensoriamento remoto de última geração, capazes de monitorar e otimizar processos críticos, identificando etapas que podem ser aperfeiçoadas.
A Ecogen, por exemplo, empresa 100% do Grupo Mitsui, tem mais de duas décadas de mercado com atuação em nível nacional e, atualmente, lançou um novo produto: o Ecogen 360º, plataforma desenvolvida com tecnologia francesa, que vem apoiando processos decisórios e orientações precisas de otimização operacional e descarbonização aos seus clientes, com possibilidade de redução de custos de até 30%.
Diagnóstico preciso e recursos digitais orientam tomadas de decisão
Como o domínio sobre eficiência energética já é meio trajeto alcançado para almejar a possibilidade de comercializar créditos de carbono, o próximo passo, segundo orientação do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), é fazer seu próprio inventário de emissões de GEEs. Por isso, a contratação de uma plataforma digital e de serviços de consultoria especializada permitem, portanto, uma abordagem mais adequada para a conquista de mais esse fator de distinção entre empresas competidoras.
Para isso, do ponto de vista prático, a exemplo do Ecogen 360º, o processo se inicia com uma avaliação digital inicial abrangente das instalações da indústria. Dessa primeira verificação, surgem indicadores preliminares de potenciais melhorias, que posteriormente serão devidamente mensuradas com maior precisão a partir da implementação da plataforma digital. Se necessário, desde o primeiro momento sensores adicionais podem ser implementados e conectados à plataforma. Com isso, são criados dashboards com relatórios e indicadores customizados que geram informações relevantes, por meio de um modelo descritivo e preditivo baseado em machine learning, que servem de insumos para projetos de descarbonização, ampliação de digitalização ou mesmo a escolha de um novo modelo energético mais sustentável.
Além disso, um trabalho mais amplo e otimizado envolve a definição de linhas de base, com respectiva detecção de desvios em tempo real, análise preditiva de dados, simulação do modo de operação de alta performance, gestão inteligente de flexibilidade energética e resposta da demanda de acordo com custo e receita, entre outros aspectos.
Os resultados obtidos com a implantação de sistemas digitais, desde que mantidos sob controle permanente, facilitam os processos para obtenção de certificações, entre as quais se destaca a ISO 50001, norma que indica os passos necessários para a implantação de um sistema de gestão de energia com melhoria contínua. Assegurar a ISO 50001, permite que a empresa possa comprovar que seus processos estão enquadrados em padrões de eficiência energética, contribuindo assim para que sua imagem ganhe maior credibilidade no mercado.
Acesso ao mercado de créditos de carbono ao alcance de mais empresas
A partir das indicações obtidas por meio de um projeto de Eficiência Energético como o citado, há várias formas de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa e que, mediante orientação técnica avalizada, podem ser projetadas sob medida para cada necessidade.
Determinados segmentos industriais, por exemplo, são potenciais candidatos à implantação de sistemas de cogeração qualificada. Essa modalidade viabiliza a produção simultânea de duas ou mais formas de energia a partir de um único combustível. Biomassas diversas, como fibras vegetais em geral e efluentes variados – agentes poluidores se descartados aleatoriamente – podem ser usados para aquecer água e produzir vapor de processo ou para acionamento de turbinas elétricas.
É possível também aproveitar gases de escape para aquecimento em processos produtivos. Da mesma forma, com o uso de chillers, a água resfriada pode servir para arrefecimento em sistemas de ar-condicionado. Nos dois casos, evita-se a liberação na natureza de gases ou líquidos que contribuem para o aquecimento global, mas que, se adequadamente aproveitados, ainda trazem vantagens competitivas às empresas.
Estudos técnicos ainda conseguem indicar a troca de fonte de energia como caminho opcional para melhora de eficiência e redução de emissões. Em alguns segmentos, mediante a substituição de queimadores, há a saída pela queima de gás natural – considerado combustível de transição – em lugar de óleo combustível ou diesel, que possuem maior carga poluente.
Em relação ao consumo de energia elétrica, as escolhas para uma melhor performance são até mais diversas. Incluem desde a instalação de plantas de geração fotovoltaica, até opção de aquisição direta no mercado livre energia, onde já se consegue selecionar até mesmo o tipo de fonte a ser contratada, entre as modalidades solar, eólica ou hidrelétrica.